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A Adolescência: o conflito entre “Totem e Tabu” e a busca pela identidade 

A adolescência é uma fase cheia de altos e baixos, onde a pessoa começa a se perceber de maneira diferente e, muitas vezes, se questiona sobre tudo o que aprendeu até ali. 

Pode parecer meio “cri-cri”, não é mesmo?

É que nesse processo, os jovens têm que encontrar um equilíbrio entre o que esperam deles e o que eles mesmos querem ser. 

A psicanálise de Freud, especialmente sua teoria de Totem e Tabu, pode contribuir no acolhimento deste momento tão intenso da vida.

Quando pensamos na adolescência, logo vem à mente aquele momento de rebeldia, de buscar o próprio caminho, questionar regras e querer ser independente. 

Mas será que toda essa “rebeldia” é apenas um impulso sem explicação ou faz parte de algo mais profundo? 

Freud, lá atrás, em sua obra Totem e Tabu aborda como as sociedades mais primitivas funcionavam. Os totens seriam símbolos de autoridade ou modelos de comportamento, enquanto os tabus eram regras que não podiam ser quebradas. 

No caso dos adolescentes, isso se reflete diretamente nas pressões que eles enfrentam para seguir o que a sociedade e a família esperam deles, enquanto buscam formar sua própria identidade.

Por exemplo, os totens podem ser as figuras de autoridade que influenciam os adolescentes: os pais, os professores, ou até mesmo influenciadores e artistas que servem como exemplo. Esses modelos são importantes. 

Por isso é natural que os jovens comecem a questionar se aquilo realmente faz sentido para eles. Eles querem saber se são livres para pensar e agir do jeito deles, ou se têm que seguir as regras impostas.

Já os tabus são as normas e expectativas que a sociedade coloca, que muitas vezes fazem o adolescente se sentir preso.

 “Você não pode fazer isso”, “isso não é o que se espera de você”, “isso está errado”.

E aí começa o conflito: o adolescente se sente desafiado, muitas vezes pela necessidade de afirmar quem ele realmente é, fora do que foi ensinado. E é esse conflito que gera muitos dos comportamentos que podemos classificar como rebeldia.

Esse processo de tentar se encontrar é fundamental para o desenvolvimento da identidade, mas pode ser bem desafiador. 

Por mais que o adolescente queira quebrar essas normas e se afastar dos modelos tradicionais, ele também tem medo de perder seu lugar na sociedade ou de não agradar a quem ele ama. Então, ele acaba indo e voltando entre o que deseja para si e o que sente que deve ser.

Para os pais e educadores, isso pode ser um grande desafio. Muitas vezes, o que parece um simples ato de rebeldia é, na verdade, uma tentativa de afirmar a identidade e de se sentir mais livre. 

É aí que entra a importância de ouvir com mais empatia, de tentar compreender o que está por trás de cada atitude. Em vez de brigar ou impor mais regras, uma conversa sincera pode ser o melhor caminho para ajudar o adolescente a navegar por essa fase de forma mais tranquila.

Mas como fazer isso se as dinâmicas familiares podem distanciar o dia a dia?

Conviver pode dar a oportunidade de criar essa ponte, que nem sempre vem o que se espera. Essa frustração de que, tanto os pais e cuidadores quanto o adolescente nunca pisaram, pode vir à tona.

Exige paciência, eu sei. 

Em vez de resistir ao processo de autodescoberta, o apoio e a escuta ativa são fundamentais para que o adolescente se sinta seguro para explorar e afirmar quem ele realmente é.

Erre. Fale. Desvie. Tente. Retome. Reveja. Reviva. Respire. Viva.

Não tem resposta certa.

Então, da próxima vez que um adolescente se mostrar desafiador ou rebelde, talvez seja interessante pensar se ele não está, na verdade, apenas tentando encontrar seu próprio caminho. O mais importante é estar ao lado dele, ouvindo e apoiando, para que ele se torne uma pessoa mais confiante e feliz consigo mesmo.

Se você é cuidador ou alguém próximo de um adolescente que está enfrentando esses desafios, lembre-se: pedir apoio de um profissional da saúde mental pode ser essencial tanto para o jovem quanto para quem está ao seu lado. A ajuda profissional pode proporcionar manejos mais aceitáveis para o convívio nesta fase. 

Obras consultadas e dicas de leitura:

  • Freud, S. (1913). Totem e Tabu.
  • Silva, T. A. (2018). A Adolescência e a Busca pelo Self: Conflitos e Conquista.
  • Imagens retiradas do Canva.

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Camila Manga é Psicanalista Clínica com foco no atendimento de adolescentes, adultos e casais. Apresenta semanalmente o quadro Cá entre Nós na Tarde Nativa FM Campinas e atua em projetos de palestras, workshops e desenvolvimento emocional no ambiente corporativo.

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