Se você é mãe ou pai, provavelmente já pensou: nossa, como isso é difícil!
Se nunca pensou, por favor, me passe seu contato — e-mail, telefone, o que for — porque eu quero muito te conhecer!
Brincadeiras à parte, a maternidade e a paternidade exigem um certo gosto pelo sofrer… Calma, vou explicar.
Adeus Controle
Você não pode escolher o que vai nascer. A ciência até pode te ajudar a escolher o sexo biológico e, em breve, talvez até a cor dos olhos, dos cabelos e alguns outros traços físicos. Pode permitir que você defina a data do parto — com alguma margem de erro, às vezes. Mas não dá pra escolher a personalidade, os hábitos, os trejeitos dessa criança. Espero que você goste de surpresas! Resumindo: o controle você perde no minuto em que o teste dá positivo. Você pode até planejar a gestação, mas todo o resto é imprevisível. Quando a criança nasce, começa uma cascata de acontecimentos — que vai te acompanhar até a vida adulta desse serzinho — e, por mais que você queira (e tente) controlar os rumos da história, ela vai te desafiar. Às vezes com graça e leveza, outras com rebeldia e gritos.
Olá Culpa
Sim, quando nasce uma criança, nasce uma mãe… e nasce uma culpa! Talvez você seja pai e sinta essa mesma culpa — ou uma versão diferente dela. Mas, se você se importa com seu filho ou filha, em algum momento ela vai aparecer. Por quê? Porque sim! Porque você respondeu atravessado e depois se arrependeu. Porque gritou. Porque exigiu demais… ou menos. Porque deu muita tela ou pouca comida saudável. Porque puniu e depois lembrou que tinha prometido que não faria mais isso — estava no livro de educação positiva recém-comprado! Porque esqueceu o casaco, o remédio, o brinquedo… ou porque não negou quando devia ter negado. Ufa! Tem mais culpa, mas vamos seguir para o próximo tópico.
Inevitável Cansaço
Ahh… esse todo mundo conhece. Ter filhos cansa. Bastante. E se você já sabia disso, por que teve essa ideia? Privação de sono, dever de casa, pedir 500 vezes que tomem banho, apaguem a luz, arrumem a bagunça. Trabalhar mais para dar conta de todas as necessidades (e as futilidades que a gente também quer oferecer).
Já entendeu onde quero chegar? Você aceitou embarcar numa jornada em que vai viver cansado, perder o controle (sim, aceite: ele já foi), e sentir culpa quase o tempo todo. Tem mais, mas acho que já defendi bem o meu ponto: um certo gosto pelo caos.
Agora olhe seus amigos sem filhos: Podem sair quando quiserem, voltar quando der na telha, gastar o dinheiro com viagens pelo mundo… enquanto você paga boletos de escola, materiais escolares caríssimos e produtos de higiene com nomes impronunciáveis.
E a tal adolescência?
Está refletindo sobre suas escolhas ? Ainda não? Talvez seus filhos ainda não tenham chegado à adolescência. Muitos pais e mães revisitam essa decisão nessa fase — quando os filhos começam a desafiar ordens, contestar ideais, criticar atitudes e, claro, revirar os olhos a cada frase que você diz.
Só tem um detalhe: não adianta repensar suas escolhas agora que você chegou até aqui. E, ainda assim, talvez você já tenha feito isso, o que provavelmente resultou em mais culpa. Mas calma… a adolescência passa. É uma etapa no desenvolvimento. Uma travessia necessária no processo de autoconhecimento. De quem? Dos dois. Do seu filho ou filha, e sua também — mãe, pai, cuidador(a). O adolescente precisa se conhecer, se encontrar e descobrir o adulto que será. E você precisa redescobrir o seu papel nesse caminho. O ideal? Ajudar. Escutar. Estar presente.
Abra mão, ao menos um pouco, desse controle que você tanto deseja. Se perdoe pelos erros inevitáveis. E descanse quando o cansaço te abraçar. No dia seguinte, recomece.
A adolescência não é o fim da linha — é uma travessia. E se a criação de filhos exige amor, paciência e presença desde o começo, é nessa fase que esses elementos se tornam ainda mais importantes. Respire fundo. Você não está sozinho(a). E sim, um pouco de humor sempre ajuda.
(Imagens geradas com Gemini)
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Luciana Sianto é Psicanalista e Terapeuta Floral. Bióloga. Pós-graduada em Neuropsicologia. Mestre e Doutora em Saúde Pública. Especializada no atendimento de adolescentes com TDAH e no espectro autista e mães atípicas.