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Transtornos alimentares na adolescência: reflexões psicanalíticas

Fabiana Tavares

O tempo lógico da adolescência pode ser pensado como o do luto pelo corpo infantil, da destituição dos pais, do não saber lidar com o corpo sexuado diante do encontro com o outro sexo, da impossibilidade de realizar almejada plenitude esperada desde a infância. Tempo embaraçoso e não menos desconcertante […]. Le Breton (2017, p.13).

INTRODUÇÃO

A alimentação está relacionada a múltiplos fatores que envolvem questões culturais, socioeconômicas, de políticas públicas, de preferências e de constituição psicoemocional. O corpo emocional, o corpo linguagem, o inconsciente em camadas, o corpo físico, a nutrição e os hábitos alimentares tudo parece estar, a luz da psicanálise, também em estreita interação com as relações objetais mais arcaicas de um indivíduo (VIANNA, 2016).  

Claro está que no boom vivido na adolescência, enquanto fase “embaraçosa e desconcertante” (LE BRETON, 2017), intensa, de crescimento, ressignificação e de constituição identitária, repleta de “ritos para construir um sentido e continuar a viver” (Id.Ibid.), a qual também envolve a capacidade simbólica e criativa relacionada a alimentação e sua expressão, pode sinalizar os já conhecidos transtornos alimentares. Tais processos, na psicanálise, podem estar relacionados a fase oral do desenvolvimento psicoemocional, a patologias narcísicas, entre outras raízes.

Os transtornos alimentares na adolescência apresentam-se como um desafio significativo para a saúde mental. Esses distúrbios, que incluem a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica, caracterizam-se por padrões de alimentação perturbados, que impactam não apenas na saúde física, mas também no bem-estar emocional e social dos jovens afetados. A abordagem psicanalítica desses transtornos tem oferecido informes sobre os fatores subjacentes que contribuem para o desenvolvimento e a manutenção desses comportamentos.

De acordo com a psicanálise, os transtornos alimentares podem ser entendidos como manifestações de conflitos internos e de angústias relacionadas ao desenvolvimento psicossexual e à dinâmica familiar. Na adolescência, período de intensas mudanças corporais e psicológicas, esses conflitos podem ser exacerbados. O corpo, que se torna o foco de muitas dessas preocupações, passa a ser visto como um objeto de controle, simbolizando, muitas vezes, a tentativa de lidar com questões de identidade, autonomia e autoaceitação.

Os pacientes que sofrem da situação geralmente demonstram uma profunda insatisfação com seus corpos e um medo intenso de ganhar peso. Esses sentimentos são frequentemente acompanhados por uma sensação de inadequação ou de falta de controle em outras áreas da vida. O controle rígido sobre a alimentação ou os episódios de compulsão alimentar podem ser vistos como tentativas de compensar essas sensações, proporcionando uma ilusão de controle ou de alívio temporário.

Relações familiares marcadas por rigidez, conflitos não resolvidos ou pressões excessivas podem contribuir para o surgimento de transtornos. A abordagem psicanalítica enfatiza a importância de explorar essas dinâmicas para compreender as origens e o significado dos sintomas. Ao trabalhar com os pacientes e, em muitos casos, com suas famílias, os terapeutas buscam identificar e abordar os conflitos subjacentes que alimentam a doença.

Analisar os transtornos alimentares na adolescência a partir de uma perspectiva psicanalítica constitui o principal propósito deste estudo. Neste sentido, propomo-nos a explorar o tema, visando enriquecer o ambiente acadêmico e estabelecer fundamentos para pesquisas futuras. Para alcançar este objetivo central e possibilitar reflexões sobre este o assunto, almejamos seguir alguns percursos discursivos como: 1) Examinar as características dos transtornos alimentares e seu impacto no desenvolvimento psicossexual; 2) Investigar as dinâmicas familiares que contribuem para o surgimento desses transtornos; 3) Analisar os mecanismos de defesa psicológicos utilizados pelos adolescentes; 4) Reconhecer a eficácia das abordagens terapêuticas psicanalíticas no tratamento desses distúrbios.

Pensar esses eixos discursivos é, ao mesmo tempo, trazer à baila uma discussão baseada na seguinte problematização: Quais são as dinâmicas psicológicas e familiares subjacentes aos transtornos alimentares na adolescência e como a abordagem psicanalítica pode contribuir para o tratamento desses distúrbios?

As reflexões aqui propostas são relevantes porque colocam na centralidade um sério problema de saúde pública, o qual impacta na vida dos adolescentes e de suas famílias de maneira profunda. O tema é importante para a academia, pois permite uma compreensão mais aprofundada desses distúrbios e de suas raízes psíquicas. Para a sociedade, o estudo contribui ao ampliar a consciência sobre a complexidades, promovendo empatia e apoio para os afetados. Além disso, o tema possui relevância para o campo da saúde mental, auxiliando para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas eficazes.

     Adicionalmente, a literatura atual carece de estudos que integrem perspectivas psicanalíticas e comportamentais do adolescente contemporâneo, porque 

[…] uma série de paradigmas e valores de nossa Sociedade, circunstâncias que se mantiveram relativamente estáveis no decurso de várias gerações que nos antecederam, estão sendo contestados, modificados e, mesmo, substituídos por outros muito diferentes.  (OUTEIRAL,2005, p.119)

             Destarte, a nossa investigação e discussão sobre o tema também oferece contribuições significativas para o acervo científico ao explorar as interações entre fatores biopsicossociais e defender que, no mundo moderno, precisamos ir além da abordagem sobre a transição no desenvolvimento, além do foco nas mudanças físicas e hormonais que marcam essa fase da vida e tem uma relação direta com as questões psíquicas. Precisamos perceber a adolescência como um ato em que o sujeito “abandona determinadas identificações imaginárias com os pais para partir em sua aventura do outro lado da ponte” (ALBERTI, 2009, p.11). 

CARACTERÍSTICAS DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA

Os transtornos alimentares na adolescência são caracterizados por padrões alimentares perturbados e por uma preocupação excessiva com o peso e a forma corporal. Esses distúrbios se apresentam de diversas formas, mas compartilham certos sintomas comuns que afetam o funcionamento físico, emocional e social dos adolescentes.

A anorexia nervosa é um dos sintomas mais conhecidos e é definida por uma restrição alimentar extrema, que leva a um peso corporal significativamente baixo em relação à idade, ao sexo e à trajetória de crescimento do indivíduo. Os adolescentes que sofrem de anorexia nervosa frequentemente apresentam um medo intenso de ganhar peso ou de se tornar obesos, apesar de estarem abaixo do peso. Eles também podem exibir uma distorção da imagem corporal, vendo-se como acima do peso, mesmo quando estão perigosamente magros. Sintomas adicionais incluem uma obsessão por alimentos, calorias e dietas, além de comportamentos de exercício excessivo.

A bulimia nervosa é outro transtorno alimentar que se manifesta por episódios recorrentes de compulsão alimentar, seguidos por comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos autoinduzidos, uso excessivo de laxantes ou exercícios excessivos. Os adolescentes com bulimia nervosa geralmente mantêm um peso normal ou estão levemente acima do peso, mas compartilham uma preocupação obsessiva com a forma e o peso corporal. Durante os episódios de compulsão alimentar, eles consomem grandes quantidades de comida em um curto período, frequentemente sentindo-se fora de controle durante esses episódios. Em seguida, sentem-se culpados e envergonhados, levando aos comportamentos compensatórios (MARQUES, SANCHES E SALES FERREIRA, 2021).

O transtorno da compulsão periódica, por sua vez, é caracterizado por episódios de compulsão alimentar sem os comportamentos compensatórios típicos da bulimia. Os adolescentes com esse transtorno consomem grandes quantidades de comida em um curto período, sentindo-se fora de controle e muitas vezes comendo até se sentirem desconfortavelmente cheios. Esses episódios são acompanhados por sentimentos de angústia, vergonha e culpa. O transtorno da compulsão alimentar periódica é frequentemente associado ao ganho de peso e à obesidade.

Os critérios diagnósticos para esses transtornos são delineados em manuais como o DSM-5, que fornece orientações detalhadas para a identificação e classificação desses distúrbios. O diagnóstico precoce é crucial, pois podem ter consequências sérias para a saúde física e mental. Além dos sintomas físicos, como desnutrição, desequilíbrios eletrolíticos e danos ao trato gastrointestinal, esses transtornos estão associados a um risco aumentado de depressão, ansiedade e suicídio. Portanto, uma identificação e um tratamento precoces são fundamentais para melhorar os resultados a longo prazo para os adolescentes afetados (Bittar e Soares, 2020).

Esse período da vida é caracterizado por mudanças físicas, emocionais e sociais que são fundamentais para a formação da identidade e para o desenvolvimento saudável da sexualidade. Quando os transtornos surgem, eles podem interromper ou distorcer esses processos críticos de desenvolvimento, levando a uma série de complicações no âmbito psicossexual (FONTENELE et al, 2019).

Os adolescentes que sofrem frequentemente apresentam uma imagem corporal distorcida e uma insatisfação intensa com seu próprio corpo. Esses sentimentos podem interferir na aceitação do próprio corpo em transformação, que é uma parte importante do desenvolvimento psicossexual. A anorexia nervosa, por exemplo, está associada a uma negação das mudanças corporais naturais que ocorrem durante a puberdade, e muitos adolescentes que sofrem desse transtorno relatam desconforto ou aversão ao desenvolvimento de características sexuais secundárias. Isso pode levar a uma regressão ou a uma estagnação no desenvolvimento psicossexual, já que os adolescentes podem se esforçar para manter um corpo infantilizado ou andrógino (SILVA GOMES et al, 2021).

A bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica, por outro lado, estão frequentemente associados a sentimentos de vergonha e autoaversão, que podem interferir na formação de relacionamentos saudáveis e na exploração da sexualidade. Os adolescentes com esses transtornos podem evitar situações sociais ou íntimas por causa de sua insatisfação com o próprio corpo, o que pode prejudicar o desenvolvimento de relacionamentos românticos ou sexuais. Além disso, os comportamentos de compulsão alimentar e purgação podem estar relacionados a tentativas de lidar com emoções ou impulsos sexuais que são percebidos como inaceitáveis ou perturbadores, o que pode levar a uma repressão ou a um desvio do desenvolvimento psicossexual saudável (SALOMÃO et al, 2021).

A desnutrição associada à anorexia nervosa, por exemplo, pode levar a amenorreia, a ausência de menstruação, o que não apenas indica um comprometimento da função reprodutiva, mas também reflete um distúrbio nos sistemas hormonais que regulam o desenvolvimento sexual. Esses desequilíbrios hormonais podem afetar o desejo sexual, a fertilidade e outros aspectos da saúde sexual. Da mesma forma, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica podem estar associados a problemas como ciclos menstruais irregulares, disfunção sexual e complicações reprodutivas (LOPES e TRAJANO, 2021).

Transtornos alimentares, como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica, frequentemente se desenvolvem durante a adolescência, um período em que o corpo e a mente passam por rápidas mudanças e o desenvolvimento da identidade pessoal está em seu auge. O abuso sexual pode perturbar profundamente o senso de controle e autoestima do adolescente, fazendo com que alguns busquem manejar esses sentimentos através de comportamentos relacionados à alimentação (CARVALHO et al., 2023).

A relação pode ser entendida através de várias perspectivas psicológicas. Primeiramente, o controle sobre a alimentação pode ser visto como uma tentativa de reaver o controle sobre o próprio corpo após uma experiência de violação da autonomia corporal. Além disso, distúrbios alimentares podem servir como um mecanismo de coping, ajudando a regular emoções difíceis ou a diminuir a ansiedade e o estresse associados às memórias do trauma (CARVALHO et al., 2023).

Sendo assim, o trauma pode levar a sentimentos intensos de vergonha, culpa e nojo de si mesmo, que podem ser expressos através de uma relação perturbada com a comida e o próprio corpo. Além disso, o isolamento social, frequentemente resultante do estigma associado ao abuso, pode agravar esses transtornos, pois o adolescente pode se sentir incompreendido ou incapaz de buscar apoio.

ABORDAGENS PSICANALÍTICAS PARA O TRATAMENTO

Nos achados da pesquisa, destacamos que na plataforma Lilacs, no período de 2019 a 2024, não foram encontrados estudos recentes sobre transtornos alimentares na adolescência sob a égide da Psicanálise. Na Scielo, encontramos dois estudos que versam sobre como as relações familiares influenciam no surgimento de transtornos alimentares (Doravante, TAs). 

Simões (et al, 2023) discutem, à luz da Psicanálise sobre, a paternidade e as configurações vinculares como raízes de sofrimento psíquico que faz surgir os TAs. Os autores explicam que quando um sintoma emerge a tessitura familiar se mostra “enfraquecida, exposta e suscetível à desmalhagem e rompimento”. E alerta para o fato de que quando os espaços não são delimitados, a individuação não é estabelecida, os “contornos narcísicos” não são constituídos através das relações familiares, o adoecimento se mostra através dos TAs (Id, Ibid, p. 21). E apesar da importância dessa ponderação do autor, ele enfatiza algo que também identificamos em nosso estudo: a escassez de literatura que versem sobre relações familiares e o contexto dos TAs.

O outro estudo, de Leonidas e Santos (2023, p.435), percorre um lugar mais comum ao pesquisar sobre a relação mãe-filha na gênese dos TAs. Os autores discutem sobre

[…] repercussões emocionais da não elaboração de conflitos transgeracionais recebidos das gerações anteriores e transmitidos sem transformação pelas mães, o que contribui para inibir o amadurecimento emocional das filhas, guardando possível relação com a vulnerabilidade aos sintomas de TAs. 

Depreendemos deste estudo que os TAs e toda sua sintomatologia expressam a aflição, o sentimento de solidão que configuram a subjetividade das adolescentes. Isso se dá porque, entre outros fatores,  o 

[…] lugar reservado ao bebê no psiquismo materno influencia diretamente o tipo e a qualidade do vínculo que será estabelecido pela díade e, consequentemente, molda o desenvolvimento da criança, que crescerá sob a regência das vicissitudes do amor e do ódio, das fantasias inconscientes e das expectativas depositadas pelos pais. (Op.Cit,437).

Claro está que vários aspectos inconscientes e não elaborados, que fazem parte da história de vida do adolescente podem emergir e se fortalecerem através de conflitos instados na relação mãe-filha(o), esse vínculo pode ser marcado por “ambivalência afetiva e falhas ambientais prolongadas, levando à dificuldade de sustentar o amadurecimento emocional da criança “(Id.Ibid, 444) e a ressonância desse processo ser sentida não apenas na adolescência, mas durante toda a vida. 

Os transtornos alimentares na adolescência estão profundamente enraizados em contextos sociais e emocionais, onde as dinâmicas familiares e as relações interpessoais ajudam. Durante essa fase de desenvolvimento, os adolescentes dependem de suas famílias para apoio emocional, orientação e validação. No entanto, quando as dinâmicas familiares são disfuncionais ou conturbadas podem contribuir para o surgimento e a perpetuação desses distúrbios.

Quando as famílias de adolescentes, frequentemente, apresentam características como rigidez, superproteção, falta de resolução de conflitos ou envolvimento excessivo. Essas características podem criar um ambiente que dificulta a expressão saudável de emoções e a resolução de problemas. A rigidez nas relações familiares, por exemplo, pode levar a sentirem que têm pouco controle sobre suas vidas, o que pode se manifestar em um desejo de controlar sua alimentação e seu peso. Da mesma forma, a superproteção pode impedir que os adolescentes desenvolvam uma sensação de autonomia, levando-os a utilizar os transtornos alimentares como uma forma de reivindicar controle ou independência (TEIXEIRA, COELHO E SILVA SANTOS, 2022).

Os adolescentes que sofrem de bulimia nervosa, por exemplo, podem experimentar sentimentos de vergonha e culpa que prejudicam suas relações sociais. Eles podem evitar situações sociais que envolvem comida ou podem se engajar em comportamentos de purgação em segredo, o que pode interferir em seus relacionamentos e aumentar seu isolamento. Os jovens com anorexia nervosa, por outro lado, podem se afastar de relacionamentos devido ao medo de perder o controle ou de serem criticados por seu comportamento alimentar (SILVA, 2019).

As expectativas e os padrões familiares podem influenciar a maneira como os adolescentes veem a si mesmos e a seus corpos. Famílias que enfatizam a perfeição ou que colocam uma ênfase excessiva na aparência física podem contribuir para a insatisfação corporal e para os comportamentos alimentares desordenados. Os adolescentes podem internalizar essas expectativas e desenvolver transtornos como uma maneira de lidar com a pressão ou de buscar aprovação (GABRIEL e Da SILVA, 2021).

Os adolescentes frequentemente vêm de famílias em que os conflitos são evitados ou mal resolvidos. Esses conflitos não resolvidos podem se manifestar em comportamentos alimentares desordenados, que servem como uma forma de expressão emocional ou como um grito de socorro. A abordagem terapêutica, portanto, deve considerar essas dinâmicas familiares e ajudar a desenvolver habilidades de comunicação e de resolução de conflitos mais saudáveis (PEREIRA, SILVA COSTA E ANDRADE AOYAMA, 2020).

Os transtornos alimentares são frequentemente moldados por mecanismos de defesa e processos inconscientes que influenciam os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos. Esses mecanismos de defesa, que são estratégias psicológicas utilizadas para lidar com conflitos internos e emoções dolorosas, auxiliando na manifestação e na manutenção. Ao compreender esses mecanismos, é possível obter informações sobre os conflitos subjacentes que motivam esses distúrbios e desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes (WEINBERG, 2019).

A negação envolve a recusa em reconhecer a realidade de uma situação ou a gravidade de um problema. No contexto, os adolescentes podem negar que têm um problema ou minimizar a seriedade de seus sintomas, mesmo quando enfrentam consequências físicas e emocionais significativas. Esse mecanismo pode impedir que os adolescentes busquem ajuda ou aceitem tratamento, prolongando o curso do transtorno (FIGUEIREDO, 2019).

A racionalização envolve a criação de justificativas plausíveis, mas incorretas, para comportamentos ou sentimentos problemáticos. Eles podem racionalizar seus comportamentos alimentares desordenados, justificando a restrição alimentar, a compulsão alimentar ou a purgação com explicações que mascaram os verdadeiros conflitos subjacentes. Por exemplo, eles podem alegar que estão seguindo uma dieta saudável ou que precisam perder peso por razões de saúde, quando na realidade esses comportamentos estão sendo motivados por conflitos emocionais ou inseguranças (CHIMBINHA et al, 2019).

A projeção é outro mecanismo de defesa que pode ser observado em adolescentes com transtornos alimentares. Esta envolve atribuir a outras pessoas sentimentos ou desejos que são inaceitáveis para o próprio indivíduo. No contexto, os adolescentes podem projetar seus próprios sentimentos de inadequação ou insegurança em outras pessoas, vendo os outros como críticos ou insatisfeitos com sua aparência. Essa projeção pode alimentar a insatisfação corporal e os comportamentos alimentares desordenados, ao mesmo tempo em que dificulta o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis (BIOLCHI e BRUCH-BERTANI, 2022).

Além desses mecanismos de defesa, os processos inconscientes também desempenham um papel significativo. Os processos inconscientes referem-se a pensamentos, sentimentos e desejos que estão fora da consciência, mas que influenciam o comportamento. Esses processos podem envolver conflitos internos relacionados à autoestima, à identidade ou à sexualidade. Por exemplo, eles podem utilizar comportamentos alimentares desordenados como uma forma de lidar com conflitos inconscientes sobre seu corpo ou seu papel na sociedade (CAMARGOS, LOPES e BERNARDINO, 2020).

A abordagem terapêutica deve, então, levar em consideração esses mecanismos de defesa e processos inconscientes. A terapia psicanalítica, em particular, é eficaz para explorar esses aspectos, ajudando a se tornarem conscientes de seus conflitos internos e a desenvolver maneiras mais saudáveis de lidar com suas emoções e desafios. Ao fazer isso, é possível promover a recuperação e o desenvolvimento saudável dos adolescentes afetados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocorrências dos TAs na adolescência se deve a uma complexa interação de fatores psicológicos, familiares e socioculturais, confirmando as hipóteses iniciais. Em particular, constatamos que esses transtornos refletem conflitos internos relacionados ao desenvolvimento psicossexual, influências familiares e pressões sociais. Além disso, a abordagem psicanalítica demonstrou-se eficaz em explorar os mecanismos de defesa e os processos inconscientes envolvidos nesses transtornos, ajudando para o tratamento.

No entanto, precisamos destacar a importância de continuar as investigações para aprimorar o conhecimento existente e intensificar o debate sobre o tema. Isso inclui a necessidade de estudos que examinem a eficácia, a longo prazo, das intervenções terapêuticas, assim como pesquisas que explorem a influência de novas dinâmicas socioculturais.

REFERÊNCIAS

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BIOLCHI, Angela Marina Radaelli; BRUCH-BERTANI, Juliana Paula. Relação entre o risco de transtorno alimentar com o estado nutricional e insatisfação corporal de adolescentes. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 16, n. 100, 2022. Disponível em < Relação entre o risco de transtorno alimentar com o estado nutricional e insatisfação corporal de adolescentes | RBONE – Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento> Acesso em 28/04/24.

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WEINBERG, Cybelle. Transtornos alimentares na infância e na adolescência: Uma visão multidisciplinar. Uma Visão Multidisciplinar. São Paulo: Sá Editora, 2007.

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Fabiana Tavares é Psicanalista (em formação). Docente. Nutricionista. Acupunturista. Yogaterapeuta. Terapeuta Holística. A transdiciplinaridade e a saúde pelo viés integrativo são trilhas que venho experienciando por mais de duas décadas porque compreendo que cada pessoa é um todo complexo que precisa/ busca viver o(auto)amor, a felicidade genuína e necessita ter sua singularidade acolhida.

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