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Os desafios e dilemas da adolescência moderna

A adolescência é uma fase repleta de incertezas e desafios, tanto para os próprios jovens quanto para os adultos que os cercam. A pressão para definir o futuro, as expectativas externas e internas, e a busca por identidade são apenas alguns dos muitos dilemas enfrentados. Este texto busca explorar essas complexidades, destacando a importância da comunicação, compreensão e apoio mútuo entre gerações.

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O Peso das Expectativas e a Angústia da Escolha

O que você quer ser quando você crescer? Quantas vezes você ouviu essa pergunta na sua vida? Será que já sabe responder ou isso ainda te angustia e causa um grande buraco dentro do seu eu? Difícil imaginar que um jovem com tão pouca experiência e tempo de vida tenha que dar conta tão cedo desta resposta e ainda com o peso da responsabilidade de não falhar, carregando em seus ombros todas as expectativas criadas por vezes por quem os rodeia; pais, familiares, professores e ainda se manter conectados às expectativas sociais e de seus pares. Tarefa inglória, não?

No entanto, essa pessoa que tantas vezes é chamada de chata, indecisa, desligada e tantos outros adjetivos pejorativos que adoramos dar a ela; que hoje, por vezes, são taxados como geração perdida, continua lutando e buscando descobrir, quase como vanguardista, como viver nesse mundo novo que se abre a todos nós e não sabemos muito como lidar. Porém, cobramos dela uma postura, talvez como fuga, mecanismo de defesa ou simplesmente como crianças pedindo socorro para outras crianças. Como aquele irmão mais novo que pede para o mais velho passar uma fase do jogo e espera ansioso para resolver aquele desafio tão amedrontador e que se irrita quando o irmão mais velho não consegue ou não satisfaz seu desejo.

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 A Comunicação e a Compreensão entre Gerações

Porque sim meus amigos, nesse novo mundo pouco conhecemos, pouco sabemos como agir e lidar com os dilemas que no nosso tempo nem eram dilemas. Quem na sua época não ia na padaria, tranquilamente, buscar um pão? Brincava na rua livremente e aguardava por aquele grito no fim da tarde falando “agora entra, vem tomar banho e jantar”? No entanto, agora quem confia em deixar os filhos irem livremente por aí, sem mil aplicativos para vigiá-los, muros para protegê-los e guaritas cheias de câmeras para fiscalizá-los? Será possível mesmo que sabemos ser adolescentes hoje? E, se por um passe de mágica, voltássemos à “terrível” fase da adolescência novamente, saberíamos viver bem nesse momento? Difícil responder, nunca saberemos a resposta, mas podemos exercitar na nossa imaginação: Como eu me expressaria? Será que saberia me comunicar da forma “adequada”?

Outras tantas vezes afirmamos que esses jovens não falam, não se comunicam, no entanto, a pergunta que surge é: eles não sabem falar, se expressar ou eu não sei ouvir? Será que nosso narcisismo primário e nossas angústias não estão governando nossa capacidade de compreender o que o jovem por vezes tenta expressar, assim como nos explica Freud (1914/1974): 

 “O ser humano possui inato dois objetos de desejo, primário e secundário: eles próprios e a mulher que cuida dele – e ao fazê-lo estamos postulando a existência de um narcisismo primário em todos, o qual em alguns casos pode manifestar-se de forma dominante em sua escolha objetal” (FREUD, 1914/1974, p. 105).

Então, surge a indagação: esses desejos narcísicos não estariam falando mais alto e me impedindo de ouvi-los, por preconceito, fuga ou apenas porque não é do meu jeito? Freud nos mostra em sua fala que, quando o sujeito não é capaz por si só de realizar-se, tem o forte ímpeto de investir naquilo “que possui a excelência que falta ao ego para torná-lo ideal” (FREUD, 1914/1974, p.18). Winnicott (1964) menciona a inveja que os adultos sentem dos jovens, afirmando:

 “É dada publicidade a cada ato de baderna juvenil porque o público não quer realmente ouvir ou ler a respeito dessas façanhas adolescentes que estão isentas de qualquer desvio antissocial. Além disso, quando acontece um milagre, como os Beatles, existem aqueles adultos que franzem o cenho, quando podiam soltar um suspiro de alívio – quer dizer, se estivessem livres da inveja que sentem do adolescente nesta fase” (p. 178).

Seria, então, possível dizer que um jovem não está se comunicando na sua playlist de música, de filmes, de série, anime, desenhos? Será que ele não está se comunicando na sua roupa, cabelo? Será mesmo que não se expressa em seus textos, desenhos, papéis colados na parede, grupos de amigos e nos vídeos que escolhe para assistir no YouTube? Nos gritos, choros, tristezas, brincadeiras, sonhos e fantasias, sim, em tudo, absolutamente tudo nesse ser está comunicando e implorando para que surja alguém capaz de interpretá-lo e, por que não, traduzi-lo. Para reforçar tal entendimento Freire (1996) nos diz: “somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele” (p.113). Continuando ainda tratando do ato de escutar, ele define como sendo “a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro” (Freire, P. 1996, p.119).

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A Psicanálise como Ferramenta de Compreensão e Apoio

Se a tarefa do Adolescente por vezes é inglória, a dos pais e educadores outras tantas vezes também se encontra no mesmo lugar. Como traduzir uma língua que não compreendemos e não sabemos falar? Este então se torna um trabalho exaustivo e que requer dedicação e muito empenho. 

Nesse momento, a Psicanálise vem como uma via que pode auxiliar nesse processo. Não como aqueles cursos de idiomas que prometem nos deixarr fluente em três meses com doze aulas, mas como aquela família que recebe no país nativo e ensina na prática. A psicanálise traz como principal ferramenta o auxílio para o autoconhecimento, para que possamos compreender o que é meu e o que é do meu filho, para que revisitemos nossa criança interior e aprendamos que ela vive e muito dentro de nós. Às vezes nos governa e aí, por vários instantes, competimos com nossos adolescentes. Mas acreditem, eles entendem muito mais desta fase atual que nós.

Para tanto, saber quem se é e o que se quer, traz liberdade para quem sabe e para quem ainda está nesse percurso de descoberta, possibilitando ser alavanca e não âncora, mola propulsora e não freio. Mesmo que aquele caminho que será percorrido não seja o mesmo que você escolheria, seja por medo, gosto ou qualquer outro motivo, não é o seu, mas se você deixar seguir e acompanhar com a mente e o coração abertos e vigilantes, verá que um dia um pouco de você, aquela parte boa sua, estará lá também.

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Referências:

ARAUJO, Maria das Graças. Considerações sobre o narcisismo. Estud. psicanal.  Belo Horizonte ,  n. 34, p. 79-82,  dez.  2010 .  

 Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372010000200011&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 25 jul.  2024.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Brasil: Paz e Terra, 1996.

FREUD, S. [1914]. Sobre o narcisismo: uma introdução. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas. 1. ed. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974, v. XIV, p. 85-119.

WINNICOTT, D. (1987). Privação e delinquência. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

Para complementar o texto recomendo a música do MC Neuta “Encontrei meu eu do passado”, Esta música foi apontada por uma pré adolescente após ler o texto. 

Link para acesso da música no You Tube:

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Cláudia Scheneider é graduanda em psicologia na UniVR. Psicanalista pela EPC. Mãe, atriz, empresária e membro de obras sociais com crianças e adolescentes e do Neppa/EPC.

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